Entrevista com o jornalista Arceno Athas – O primeiro locutor de “O Seu Redator Chefe” da Rádio Globo

Como você chegou até a Rádio Globo do Rio e quando deixou a emissora?

Fui contratado pela Rádio Globo em março de 61, deixando a Rádio Guanabara, oinde participava da equipe de esportes como narrador (equipe com Edson Leite, Jorge Cury, Doalcei Camargo, Fernando Solera, Silvio Luiz, João Saldanha, Halmalo Silva, entre outros); como apresentador titular do Correspondente Renner, então o segundo mais importante do Rio; e como comunicador da madrugada, apresentando o VARIG É DONA DA NOITE, da meia noite às 04 da manhã, logo depois do meu grande e inesquecível companheiro Osvaldo Sargenteli. A Rádio Globo me contratou para a equipe de esportes de Waldir Amaral (como narrador e redator dos programas esportivos, junto com Teixeira Heizer) e apresentador do O Globo no Ar, na parte da manhã (07:00 até meio dia), de hora em hora. Deixei a emissora em maio de 65, transferido para a Rede Globo de Televisão, como diretor geral da TV Bauru Canal 2, onde permaneci até dezembro de 69, exatos quatro anos e meio.

Segundo o Berto Filho (in memorian) você e ele foram os primeiros locutores do famoso programa (extinto) “O Seu Redator Chefe” em 1962. Lembra-se da estréia e do formato do jornal?

Meu  saudoso amigo Berto Filho, extraordinário profissional e grande companheiro, foi meu primeiro parceiro na apresentação do O Seu Redator Chefe que, posteriormente, ficou somente sob minha responsabilidade, assim como A Cidade Contra o Crime, ambos diários, na hora do almoço.

Quem eram os noticiaristas daquela época?

Sobre os noticiaristas, me recordo  do Paulinho Siqueira, porque tudo isso aconteceu a meio século atrás e a memoria às vezes falha.  Mas na redação do jornalismo,  dirigida pelo Mário Franqueira, os redatores da época dos quais tenho lembrança são  Silvio Darci e o bagunceiro Aureo Ameno.

Arceno, você se lembra de Adelzon Alves, Luciano Alves e Paulo Diniz (que se tornou cantor)? Trabalhavam com você no SGR?

Lembro-me dos três, mas o mais chegado comigo foi o Adelzon. Ele e o Luciano eram de Cornélio Procópio, meus vizinhos de Londrina e tínhamos muito em comum.

O que você fazia na Equipe de Esportes do Waldir Amaral. Você era narrador ou comentarista?

Na equipe de esportes era narrador e redator dos programas esportivos da emissora, auxiliado por Teixeira Heizer, outro grande amigo. Meu compadre Dalton Ferreira, Celso Garcia, José Cabral, Alberto da Gama Malcher, Geraldo Castro e tantos outros, todos até hoje vivem na minha lembrança e no meu coração. Deixei para o final José Carlos Araujo, no meu tempo plantão de estúdio nos jogos, a quem reverencio pela sua competência e talento e por ter chegado onde chegou.

Trabalhou com Carlos Noronha o locutor mineiro? Você se lembra dos estúdios da Irineo Marinho? Tinha um auditório?

Sobre Carlos Noronha, lembro-me vagamente dele, e peço perdão se estou cometendo um grave deslize. Sobre os estúdios, não havia auditório em nenhum deles. Um era o principal, da emissora no ar, muito amplo, e que recebia as fãs do comunicador e dos cantores que sempre estavam presentes, especialmente no programa do Luiz de Carvalho. O outro era utilizado como estúdio de gravação, de programas, vinhetas, etc.

Como era a Rádio Globo na época? Concorria com quem na audiência? Quem eram os comunicadores?

Haroldo de Andrade (meu “irmão” curitibano), Luiz de Carvalho, Sarita Campos, Chacrinha, são alguns dos quais me lembro com carinho. A Rádio Globo “brigava” pela liderança geral, embora no esporte tenha deixado todas as outras no calcanhar. A Tupi, na época, era a principal adversária.

Você saiu da Rádio Globo e foi para a TV Globo?

Depois que fui para a Rede Globo, acabei por trabalhar em muitas emissoras de Televisão do país (fora o Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia e Salvador), dirigindo emissoras afiliadas da própria Rede Globo, Bandeirantes, Manchete e a Record Rio, na época pertencente aos Machado de Carvalho e ao Grupo Silvio Santos.

Com o você vê o rádio brasileiro hoje?

O Rádio hoje, no meu entender, salvo algumas exceções, está desfigurado, por incompetência de quem dirige. São poucas que restaram com alguma dignidade. A maior parte está comprometida com Igrejas ou gravadoras e o que fazem é induzir seu público ao que não presta.

Arceno e você o que tem feito hoje, continua na ativa?

Finalmente, estou aposentado, resido em Fátima do Sul, no Mato Grosso do Sul, gozo de uma vida pacata aos 82 anos de idade, que vou comemorar em 30 de junho próximo tomando todas, e continuo trabalhando firme como diretor executivo da Associação Comercial e Industrial da cidade. Gostaria imensamente que meus antigos companheiros fizessem contato: athascom@gmail.com fone: 67 – 99982-7794

Arceno, como surgiu a história do Cadillac que você comprou e era inclusive notícia na coluna da Candinha da Revista do Rádio? É verdade que o Roberto Carlos pegava carona nele?

Depois de passar por um Oldsmobile usado e outros que tais, acabei chegando, em negócio de ocasião, a um Cadillac 56, cinza chumbo, estofamento de couro, vermelho, coupê De Ville, um luxo. Os amigos o apelidaram Presidente. Nesse tempo, o Roberto residia em pequeno hotel localizado na Frei Caneca, meu caminho obrigatório para a Rádio Globo, pela manhã, tipo 06:30, já que apresentava O Globo no Ar das 07:00h.. E em algumas oportunidades, dei carona pra ele, que precisava “caitituar” suas músicas junto aos comunicadores, particularmente Haroldo de Andrade, que fazia esse horário. O Roberto é um “boa praça”. Merece o nome que tem hoje. Trabalhou muito pra isso.

Dizem que o Luiz de Carvalho grande estrela do rádio nos anos 60 era meio complicado nos relacionamentos com os colegas, isto é verdade?

O Luiz de Carvalho, estrela do horário no Rádio carioca da época, usufruiu ao máximo do nome que fez. Internamente, era colega de trabalho como qualquer dos demais e não deixou, pelo menos pra mim, essa má impressão a que você se referiu. Externamente, quem sabe?

O que dizer de Mário Luiz e Luiz Brunine?

O Mário Luiz era um “doce” de pessoa. Competente, comedido, equilibrado, respeitoso, mas exigente ao máximo. Comandava com muita firmeza a área artística da emissora. Um grande profissional e um grande “cara”. Sobre o Luiz Brunini, sou suspeito pra falar. Meu “chegado”, ele e Rubens Amaral foram responsáveis diretos pela minha transferência da Rádio Guanabara para a Rádio Globo. Atuou positivamente na minha promoção para a direção geral da TV Globo de Bauru e, posteriormente, quando deixei a emissora, foi me buscar de novo e me entregou a direção geral da Rádio Globo de Belo Horizonte, então Rádio Tiradentes. Isso entre 1971 e 1972, durante 18 meses, até que a emissora deixasse o último lugar do Ibope e figurasse entre as três primeiras mais ouvidas. Sem mais comentários.

No seu tempo o Repórter Esso já estava na Rádio Globo com o Roberto Figueiredo?

O Repórter Esso chegou depois de mim. Mas conheci o Roberto Figueiredo, um grande apresentador de notícias. Sobre o Rádio de hoje, considero que deve mesclar o local/regional ao nacional, incentivando musicalmente o que é popular e de qualidade, jamais se tornando “escravo” das gravadoras, e tendo participação efetiva na vida do cidadão, em todos os níveis, através de um jornalismo atuante e descompromissado com interesses subalternos. Esse caminho revigoraria o Rádio atual, fazendo com que voltasse e figurar em grande estilo e com o respeito de uma população abalada pela corrupção maldita que nos atinge.

Percebo que com 82 anos você continua bem articulado e muito ativo. Você ainda sonha? Quais são os seus melhores sonhos na profissão?

Sonho sim. Dormindo e acordado também. Tenho sempre em mente que a experiência adquirida ao longo de uma vida deve ser repassada aos jovens que têm “garra” e objetivos profissionais sérios e elogiáveis. Em qualquer segmento. Quando atingir cem por cento dessa missão, estarei pronto para encontrar o que Deus tenha reservado pra mim.

Qual a sua referência no rádio brasileiro?

Finalmente, sobre referência maior na minha vida profissional, tenho que citar Pedro Luiz, na minha opinião o maior narrador esportivo que o Rádio brasileiro já conheceu, e “in memoriam”, o Fiori Gigliotti, homem extraordinário e profissional de primeira linha, de quem me honrei ser seu amigo.



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