Glauco Fassheber

Entrevista concedida ao companheiro Marcos Niemayer e áudio exclusivo do site Show do Rádio com Glauco Fassheber e Isac Zaltman interpretando um especial na morte de Tancrêdo Neves na Rádio Globo Rio.

Ele iniciou suas atividades profissionais em 1955 na antiga Rádio Industrial de Juiz de Fora, cidade mineira onde nasceu. Quatro anos depois mudaria para o Rio de Janeiro vindo a trabalhar nas mais importantes emissoras cariocas.Teve passagem pela hoje capengante Rádio Tamoio, TV Rio, Rádios Tupi e Jornal do Brasil- apresentava o “Repórter JB”- um dos mais conceituados programas jornalísticos do dial até meados dos anos 80. Nos tempos áureos do cinema, foi um dos narradores do lendário Cinejornal da Atlântida Cinematográfica.

Além de jornalista, publicitário, empresário e mestre de cerimônias é Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro. Na época da ditadura era o locutor oficial dos governos Geisel, Médici e Figueiredo. “Mas isso em nada interferia no meu trabalho radiofônico”, garante.

Estamos a nos referir sobre a ilustre e respeitável figura de Glauco Fassheber (foto), que se tornou conhecido em todo o Brasil foi mesmo através da Rádio Globo, onde durante vários anos apresentou as edições matutinas de “O Globo no Ar” e “O Seu Redator Chefe”. Fassheber é o nosso entrevistado de hoje.

Em conversa descontraída com a produção desta página, ele lembra- entre outros fatos- da época que as emissoras respeitavam o ouvinte e a programação era feita com “amor e responsabilidade”. Apesar de aposentado, não afasta a possibilidade de uma eventual volta ao trabalho radiofônico.

O Sr. vem de de uma escola que fazia rádio de verdade no Brasil. Havia mais respeito pelo ouvinte. Qual a explicação?

Realmente, o rádio tinha respeito pelo ouvinte. Havia uma grade de programação e o ouvinte se habituava ao esquema de trabalho de cada emissora. Sabia corretamente a hora certa, o nome de cada locutor que se apresentava, o programa que seria de seu interesse em cada área, bem como os horários certíssimos dos noticiários, que normalmente eram dirigidos às suas comunidades. Antes até de minha época, como exemplo, havia um programa Jornalístico na antiga Rádio Nacional do Rio de Janeiro que se chamava “REPÓRTER ESSO”- apresentado, na minha opinião, pelo melhor locutor de notícias do Brasil até hoje, HERON DOMINGUES, que quando informava a hora certa, todos os cidadãos que estivessem ouvindo a rádio, acertavam os seus relógios, pois estavam certos da seriedade da informação. Mudou tudo e para pior! A atenção para com o público ouvinte, a responsabilidade pelo trabalho, o profissionalismo das pessoas que atuam nas emissoras, a ética profissional e o respeito pelos anunciantes.

O rádio AM estaria mesmo com os dias contados ou ainda há luz no fim do túnel com a implantação do sistema digital?Na minha opinião, o rádio AM realmente está com os dias contados. Pela qualidade do som, pela qualidade dos profissionais, pela programação que ficou totalmente abandonada pelos coordenadores. Provavelmente poderá reviver com o sistema digital, embora passe a atuar exatamente com uma programação tipo FM (música, exclusivamente música) uma vez que a maioria dos proprietários das atuais emissoras, é empresário normalmente político ou interessado exclusivamente no lucro financeiro, sem o menor investimento em qualidade. Daí, não se preocupar com o resultado favorável ao ouvinte.

Quem ouve AM geralmente tem acima de 30 anos. As novas gerações vão se ligar nesse esse tipo de freqüência diante da incontável oferta de novas mídias, a exemplo da própria internet?Com a chegada do sistema digital, que oferecerá melhor qualidade de recepção, e se houver mão de obra com maior qualidade, acredito que sim. O fato também que é importante, é a ausência de receptores com alcance maior, para que possamos obter resultados de novas emissoras e de outros centros. De 20 anos para cá, as fábricas passaram a jogar no mercado comprador apenas rádios receptores com somente duas faixas de onda: AM e FM. Eu por exemplo, tenho três aparelhos receptores que poucos possuem. Um deles é o Transglobe-Philco, com nove faixas e me proporciona a oportunidade de sintonizar as emissoras do mundo inteiro.

É público e notório que o FM vem tirando audiência do AM não só nos grandes centros mas até mesmo nas médias e pequenas cidades. Parece que o AM está mesmo dominado. Aliás, hoje praticamente não se fabrica mais receptor AM.Acredito que exatamente por ter uma qualidade de som superior. Normalmente o FM é um rádio tocador de música, o que faz com que sintonizemos para descansar dos problemas do dia a dia. Entretanto, a maioria já está utilizando no FM uma programação até então usada no AM. Tem dado certo, mas ainda tenho minhas restrições, pois os responsáveis – em sua maioria – não possuem conhecimento geral para isso.

Além de Políticos, grupos religiosos administram centenas de emissoras em todo o país. Isso teria contribuído de maneira negativa para a credibilidade do sistema? Não só rádios pequenas e médias estão sob controle desses segmentos. É o caso da tradicional Rádio Sociedade da Bahia, vendida para o mega-empresário da fé Edir Macedo. O mesmo ocorreu com a Guaíba de Porto Alegre, também adquirida a peso de ouro pela Empresa Universal do Reino de Deus.

As igrejas pensam apenas em oferecer aos ouvintes suas crenças, deixando de lado a cultura, a prestação do serviço de utilidade pública, as informações do dia a dia, etc. Políticos, vêem nas emissoras de rádio, a possibilidade de se promoverem pessoalmente visando exclusivamente sucesso maior nas disputas eleitorais. A Rádio Guaíba, foi uma das emissoras de maior audiência em nosso País. Lembro-me até como ouvinte dela, que nas décadas de 60, 70 e até 80, era uma emissora de um gabarito excelente, tendo em sua programação diária dois locutores apresentadores por horário de trabalho e cada um da melhor qualidade de voz, respiração, interpretação, dicção, leitura e credibilidade. Para que se tenha uma idéia, naquela época a Rádio Guaíba não aceitava em sua programação comercial nenhuma gravação e nem mesmo “jingles“. Nem mesmo a Coca Cola conseguiu êxito na programação da emissora. Era sim cliente da mesma, mas todos os comerciais lá apresentados eram lidos pelos seus excelentes Locutores e em dupla.

Sendo concessões públicas o rádio e a TV não deveriam manter uma linha mais independente?Devem e podem. Realmente as emissoras são concessão pública, podendo ser cassadas a qualquer momento, desde que não cumpram determinadas atitudes que lhes são cobradas. Mas dificilmente isto ocorre. Contam-se nos dedos casos ocorridos até hoje. Os que aconteceram, foram em virtude normalmente por falta de recolhimentos de impostos federeis, como por exemplo, Imposto de Renda ou INSS. Estamos em um País democrático e podemos e devemos sim ser independentes, desde que com as provas devidas.

O que fazer efetivamente para combater as rádios piratas que proliferam como abelha no pote de mel?Enquanto não houver em nosso País uma Lei que possa ser fiscalizada e cumprida verdadeiramente, nada poderemos fazer. Hoje com equipamentos simples e com pessoal que tenha um pouco de conhecimento técnico, monta-se uma emissora de boa capacidade de alcance e coloca-se no ar sem a menor condição de se fiscalizar, pois não há pessoal bastante para tal. Como o custo de montagem é pequeno, estas emissoras podem vender seus comerciais a preços irrisórios, conseguindo bom faturamento mensal e sem grandes investimentos. Basta um computador na parte de estúdio, para que façamos uma programação de 24 horas. Acredito também, que se os comerciantes pensassem melhor, e não participassem da programação dessas emissoras clandestinas, seria um outro meio de combate. Deveriam saber que pagam pouco pelas inserções, entretanto, o resultado é praticamente inexistente. Na minha opinião, mesmo pagando pouco, estão jogando fora suas economias que poderiam ser melhor aplicadas em emissoras de maior audiência, tendo retorno superior.

Entre as emissoras que o Sr. atuou a Rádio Globo foi uma das mais importantes. Ultimamente observa-se um declínio no SGR que perde em audiência para a Tupi no Grande Rio. A briga entre as duas emissoras na disputa pelo ouvinte é antiga, não?O Sistema Globo de Rádio está passando por modificações estruturais em sua programação para pior. Hoje, a direção do Sistema está entregue aos administradores profissionais que visam exclusivamente o retorno financeiro, não se importando pela qualidade dos profissionais que lá atuam. Começaram mal quando procuraram acabar com os radialistas das cidades menores ao fazerem acordos operacionais com emissoras do interior do País sem se importarem inclusive com a manutenção do bom nome da Rádio Globo até então. Demitiram os melhores profissionais que lá estavam, mais uma vez visando lucro maior, sem se lembrar que os mesmos eram responsáveis pelo faturamento da emissora. HAROLDO de ANDRADE, por exemplo, com 42 anos de trabalho na emissora, foi demitido da noite para o dia, sem ao menos lhe darem oportunidade de se despedir dos seus ouvintes cativos. E sua demissão se deu em virtude de ele não admitir o tal acordo operacional com as emissoras do interior, exatamente por não concordar com o desemprego da maioria dos profissionais das rádios menores. RESULTADO: Alguns bons comunicadores da Globo foram contratados pela Rádio Tupi e lá estão alavancando a audiência da emissora, e consequentemente aumentando seu faturamento. Na minha época, lá estavam profissionais do rádio a exemplo de LUIZ BRUNINI, RAUL BRUNINI e MÁRIO LUIZ dirigindo e bem a emissora que foi durante anos, referência do rádio brasileiro.

Fale-nos sobre o acontecimento que mais marcou sua carreira profissional.

Acontecimento marcante foi em uma solenidade no Clube Ginástico Português na cidade do Rio de Janeiro, na década de 80, com a presença do então Presidente da República, João Batista Figueiredo. Eu, como Locutor Oficial da Presidência da República (servi de 1970 a 1985 aos Presidentes Médici, Geisel e Figueiredo), me apresentava em todas as solenidades que contassem com as presenças de suas excelências, os Senhores Presidentes. Naquela solenidade, com seleta presença de empresários nacionais, não constava na pauta dos trabalhos, a fala do Presidente da República. Como à época a política estava fervendo, e eu acreditando que seria ótimo o presidente falar para os empresários, me dirigi à ele enquanto falava o presidente do Clube Ginástico e que seria o último a fazer uma explanação ao público presente, e perguntei se ele gostaria de falar. Respondeu-me que sim e que eu poderia anunciar. Tão logo terminou a fala do dirigente do clube, esperei os aplausos e com toda ênfase disse aos empresários, que em atenção à presença de todos, Sua Excelência o Senhor Presidente da República havia decido naquele exato instante dirigir-lhes algumas palavras. Foi aplaudido de pé, enquanto eu seguia em direção à ele com o microfone e o colocava à sua frente para sua explanação. O então Presidente da República olhou para mim, deu um sorriso, e tirou do bolso interno de seu paletó uma certa quantidade de folhas com um discurso previamente preparado. Houve um misto de surpresa e gozação dos empresários presentes. Tomei então a decisão de retomar o microfone do Presidente, e dizer que realmente não havia no protocolo da Presidência da República a informação de que Sua Excelência o Senhor Presidente falaria. Ele voltou a sorrir, passei-lhe de volta o microfone eu me senti aliviado da gafe involuntária.

Quase não ouço rádio. Confesso que não tenho tido ânimo para isso diante da qualidade duvidosa que o meio tem oferecido. Há poucos dias, no entanto, ouvi “O Globo no Ar” através da emissora carioca. Fiquei surpreso ao perceber que o noticiarista apresentava visível insegurança na leitura. Num espaço de cinco minutos foram sete gaguejadas. E a última notícia era a previsão do tempo (penoso!). Na época do Sr. isso não ocorria…

Depois que trabalhei por 50 anos consecutivos ao lado dos maiores nomes profissionais do rádio e da TV, confesso-lhe também que o rádio perdeu em muito a razão de sua existência. Atualmente na Rádio Globo, há somente um programa que ainda possui audiência e é mantido com uma produção de nível elevado para o momento: O programa do ANTONIO CARLOS, das 06 às 09 horas da manhã. Na minha opinião, no momento em que aquele programa sair do ar por algum motivo, a Rádio Globo se tornará uma emissora como outra qualquer. O jornalístico “O GLOBO NO AR”, teve como apresentadores, GUILHERME de SOUZA, ISAAC ZALTMANN e este entrevistado. Éramos escolhidos pela voz, pela dicção, pela interpretação da notícia, pela credibilidade que passávamos ao ouvinte, pela respiração, pela consciência do que falávamos, pela segurança na leitura, enfim pelo profissionalismo. Hoje, qualquer pessoa que não seja muda, na concepção dos atuais dirigentes de nosso rádio, pode usar o microfone. As notícias eram transmitidas de acordo com a importância de cada uma, sendo a última obviamente, a mais importante do momento. Aqui em Juiz de Fora-MG minha cidade natal e onde resido atualmente, faz 13 dias que foi inaugurada uma outra emissora FM. Pois bem; não há uma programação musical específica. Ouve-se diariamente e praticamente as mesmas músicas e da pior qualidade. Os noticiários a cada instante, são apresentados por vozes diferentes, sem a menor condição de transmiti-los. “faladores” (que deveriam ser locutores) faltam aos seus horários, sem que haja substitutos, e a emissora toca músicas em sequência, sem que sejam estas anunciadas e sem a menor atenção ao ouvinte , deixando-o sem saber sequer a hora certa e por tempo indeterminado. NÃO HÁ MESMO RESPEITO AO OUVINTE E MUITO MENOS AO ANUNCIANTE!

Ainda liga o rádio? Que tipo de programa tem sua preferência? E o rádio noticioso 24 horas por dia- a exemplo da CBN, BandNewsFM mais algumas outras que tentar copiar o modelo- isso na prática funciona ou é algo cansativo tanto para quem faz quanto para quem supostamente ouve?

Ainda ligo o rádio, uma vez que quem por durante 50 anos consecutivos trabalhou com amor e carinho profissional naquilo que sempre lhe deu satisfações, não pode de uma hora para outra abandoná-lo. Entretanto, fico irritado e muitas vezes o desligo ao ouvir tanta falta de profissionalismo, interesse e ética nas atuais pessoas que fazem o rádio de hoje. Raramente ouço o rádio noticioso (e também a TV), pois se trata de um trabalho cansativo e audiência também cansativa. Salvo raras exceções durante a programação, a maioria das matérias é gravada e repetida em horários diversos para que obtenham outro ouvinte ou telespectador.

A Globo Brasil- unificação do SGR entre Rio e São Paulo na tentativa de alavancar a audiência- além de dezenas de franquias com a marca da emissora, parece que não surtiu o efeito esperado. O ouvinte de rádio é mesmo bairrista?Tive oportunidade de falar no início desta entrevista sobre essa unificação. O bairrismo existe e muito entre Rio de Janeiro e São Paulo. Enquanto havia profissionais na Rádio Globo nas cidades do Rio e de São Paulo, e ambas eram ouvidas pelo Brasil afora, o público tinha a oportunidade de escolher as emissoras que desejasse. Ou as de sua cidade ou as das cidades de porte maior e com programação que lhe agradasse. A “franquia.” criada pela Globo, foi um desastre para as emissoras do interior e maior ainda para os funcionários das menores emissoras, pois em sua maioria, foram dispensados, por não haver mais trabalho para eles. Também perdeu a Rádio Globo por não ter mais uma identificação própria.

Do ponto de vista econômico/política/ social do país o rádio proporciona retorno financeiro ou as emissoras vivem em sua maioria de verbas oficiais?

As emissoras, desde que bem administradas e por profissionais que possuam pleno conhecimento do setor, têm sim possibilidade de obter bom retorno financeiro sem necessidade de verbas oficias, uma vez que na realidade, somente as rádios das grandes capitais recebem alguma verba oficial, já que por serem concessão governamental, obrigatoriamente, devem transmitir toda e qualquer publicidade do Governo Federal sem ônus algum.

Já atuou ou pensa entrar para a política?

Infelizmente tive a possibilidade de me candidatar certa vez a um cargo de Vereador aqui em Juiz de Fora. Mas foi por insistência de um ex-patrão que achava que por eu ser uma pessoa à época muito conhecida e influente na sociedade, teria condições de obter uma bela votação e seguir também a carreira política. Eu havia retornado para minha cidade e já aposentado, trabalhava na emissora de TV local e apresentava um noticiário com grande audiência. A emissora era afiliada ao SBT e eu transmitia o noticiário local, enquanto Boris Casoy levava ao ar o noticiário nacional. Fui bem votado, mas sem a menor condição de obter resultado favorável. Nunca mais me interessei, e diante da atual crise política, dou Graças a Deus por não ter obtido êxito.

O Sr. foi proprietário de várias emissoras em Juiz de Fora e cidades da Zona da Mata mineira. Por que desistiu do empreendimento?Em 1976, tive oportunidade de adquirir a Rádio Difusora Minas Gerais /AM – na cidade de Juiz de Fora. Aquela emissora, havia sido a segunda onde trabalhei como profissional. À época eram três emissoras na cidade e a Difusora, a terceira colocada em audiência. O faturamento mensal da empresa era inferior ao meu salário. Organizei a programação de tal maneira que três meses após o faturamento quintuplicou e o IBOPE me informava que havíamos obtido o primeiro lugar em audiência. Esta rádio me possibilitou depois, financeiramente, montar mais três emissoras em FM. As Rádios MANCHESTER, a primeira em FM da cidade de Juiz de Fora, CAPARAÓ na cidade de Carangola-MG e EVEREST , na cidade de São João Nepomuceno, também em MG. As três FMs obtive por Editais de Concorrência junto ao Ministério das Comunicações. Como eu trabalhava concomitantemente como Locutor Oficial da Presidência da República, acompanhava as solenidades onde estivesse presente Sua Excelência o Senhor Presidente da República. Viajava demais e não tinha uma boa retaguarda para a administração das empresas que cresciam e necessitavam de minha presença constante. Assim, decidi vendê-las para que mais tarde não tivesse o dissabor de perdê-las por dificuldades financeiras.

Esse tipo de atividade oficial chegou a interferir no seu trabalho radiofônico no sentido de priorizar esse ou aquele tipo de notícia, já que o Brasil estava em plena era da ditadura?

Vale lembrar que minha atividade junto à Presidência da República, se deveu única e exclusivamente por razões Profissionais. Eu trabalhava como Locutor na Agência Nacional apresentando o noticiário “A VOZ DO BRASIL“, quando depois de dois anos à frente daquele informativo, fui convidado pelo então Assessor de Comunicação da Presidência da República CARLOS FELBERG para atender exclusivamente ao Palácio do Planalto. Em hipótese alguma houve interferência em meu trabalho no rádio, uma vez que sabia das normas regulamentares de trabalho jornalístico da época e as respeitava eticamente e profissionalmente.

Quem é referência hoje no rádio brasileiro? (apresentadores, noticiaristas, narradores esportivos, repórteres).Difícil apontar alguma referência no rádio de hoje. Mesmo porque não tenho mais ouvido com assiduidade às emissoras nacionais. Vejo às vezes TV e como apresentadora, por exemplo, aponto uma moça que é mal aproveitada no horário da emissora, pois poderia ter um programa de mais gabarito e em horário nobre. Trata-se de REGINA VOLPATO: bela figura, bela profissional, educada com seu público, inteligente, ética e apresentadora do programa “CASOS de FAMÍLIA “ no SBT de segunda à sextas-feiras às 4 e 15 da tarde. Já noticiaristas, destaco BORIS CASOY, que embora não sendo LOCUTOR, passa a notícia ao tele-espectador com segurança e grande credibilidade, e CELSO FREITAS, da TV-RECORD com excelente postura diante das câmeras, boa dicção, boa respiração, boa interpretação e também credibilidade. Narradores esportivos, JOSÉ CARLOS ARAÚJO (o Garotinho) e ÉDSON MAURO, ambos da Rádio Globo, com quem tive o prazer enorme de trabalhar e que se deixarem o rádio como eu o fiz, não terão substitutos que cheguem perto sequer. Na reportagem, CARLOS NASCIMENTO, hoje no SBT fazendo às vezes de noticiarista, e ROBERTO CABRINI da TV-RECORD Veja: todos Profissionais atuando há vários anos nos setores, sem que vejamos algum novato com possibilidade de ser um grande.

Tem vontade de voltar para o rádio ou acredita que já escreveu sua página?O Rádio é uma cachaça para quem trabalhou nele com vontade de servir. Eu sempre que terminava meu expediente, torcia para que o dia terminasse logo e se iniciasse o seguinte, para que pudesse retornar ao trabalho. Gostava mesmo do que fazia. E volto a relatar: fazia com amor. Portanto, apesar de meus atuais 72 anos vividos, com disposição física e voz ainda impecável (modéstia às favas), tenho sim vontade de retornar às lide. Fui convidado para atuar nessa nova emissora de FM há pouco inaugurada aqui, mas não entramos em acordo quanto ao salário. Estou aberto a propostas!

Hoje as faculdades parece que não preparam de maneira eficiente o jovem que pensa em seguir a carreira no radiojornalismo. Ou será que já não existe tanto interesse pela atividade? É consenso que- salvo raras exceções- o rádio pago pouco. Além do mais, a moçada que sai da universidade quer saber mesmo é de televisão, assessoria de imprensa, jornais, outros tipos de mídia onde o salário pode ser mais vantajoso. Qual seu ponto de vista?As faculdades de Comunicação preparam os jovens didaticamente sem que tenham condições de lhes oferecer a prática, embora algumas até tenham seus laboratórios de trabalho, mas não possuem o elemento humano que tenha tido prática na realidade do rádio, da TV, ou mesmo da imprensa. A maioria dos Professores nunca passou por uma redação ou empunhou um microfone. Como poderia passar a prática aos jovens? Há sim ainda alguns que preferem o rádio, mas a maioria, principalmente as moças, são fascinadas pela TV, pela exposição que o vídeo as oferece. Veja que os profissionais de hoje normalmente são bonitinhos ou bonitinhas, mas pecam no profissionalismo.

E que recomendação o ilustre jornalista Glauco Fassheber deixa ao jovem que está iniciando a carreira no rádio?

Difícil meu amigo. Haveria de ter alguém junto dele com capacidade de trabalho na mídia que realmente tivesse boa vontade para lhe passar tudo o que aprendeu na prática. Tive isso quando iniciei e fiz isso quando tive minhas emissoras de rádio. A cada momento que eu lia algo errado ou tinha uma postura diferente do normal, era chamado à sala de meu superior para receber explicações de como deveria me apresentar, como deveria agir diante do microfone e diante das pessoas entrevistadas. De qualquer maneira, é preciso antes de mais nada que o jovem tenha ética, postura, sensibilidade, credibilidade, e goste realmente daquilo que escolheu para fazer, afim de conseguir boas fontes nas informações e saiba o momento oportuno para divulgá-las. Não se preocupe com os chamados “furos” de reportagem , uma vez que ninguém passa à frente do outro na informação, já que se o ouvinte ou o tele-espectador estão sintonizados comigo e outra emissora der o tal “ furo” para o meu ouvinte, nada acontecerá.

Por conta da grande popularidade alcançada diante dos microfones da Rádio Globo, Fassheber chegou a ser homenageado por casais de ouvintes nos mais diferentes pontos do país- sobretudo no Nordeste- que batizavam seus filhos com o nome do veterano jornalista.

Na cidade de Pedra Branca, no Ceará, na década de 70, nasceu um robusto menino, filho do então Gerente do Banco do Nordeste do Brasil naquela cidade. A criança recebeu o nome de Glauco Fassheber Urbano de Melo. O Pai, ouvinte da emissora carioca quando a mesma impunha respeito, mantém correspondência até hoje com nosso entrevistado.

Em Teixeira de Freitas- no Extremo Sul da Bahia – o proprietário de um modesto estabelecimento- que antes se chamava “Vá Entrando que a Casa é Sua”- não deixou por menos; mandou fazer imensa placa com o sugestivo nome de “Bar e Mercearia Glauco Fassheber”. Já nos confins da Amazônia encontraram no início da década de 70 um boteco catingando a urina, cujo nome era simplesmente “O Globo no Ar”.

Apesar das baixas sofridas nos últimos anos, o rádio brasileiro é mesmo rico em histórias e fatos pitorescos. A entrevista com Glauco Fassheber foi agendada pelo radialista de Juiz de Fora, Carlos Ferreira, ao qual também agradecemos a gentileza.



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